4ª aula

27/03/2012 14:23

AS FORMAS FIXAS NA BÍBLIA

 Os termos “gênero literário” e “formas fixas” frequentemente se confundem. Há autores que os empregam indiscriminadamente, sem distição. Enfim, como os gêneros literários da Bíblia se repetem, nós podemos dizer que são formas fixas em que foi escrita a Bíblia. E são muitas e variadas essas formas. Algumas delas: cânticos, evangelhos, provérbios, escritos doutrinários, livros proféticos, cartas, escritos de revelação, leis, e os chamados “livros históricos”.

O livro de Jonas

É uma obra que tem por finalidade instruir, tratando-se, portanto, de uma narrativa didática é na última cena, no diálogo entre Deus e Jonas, que fica claro que se trata de um ensinamento. Todos os acontecimentos anteriores só foram criando condiçôes para esse desfecho final, onde está a mensagem principal da obra.

Esse livro, na classificação bíblica, está incluído entre os livros proféticos, simplesmente porque existiu um profeta Jonas durante o reinado do rei Jeroboão (787-747 a.C.), que é citado em 2Rs 14,25. Mas o livro de Jonas é de uma data posterior e ficaria melhor classificado entre os livros sapienciais.

O livro é como se fosse uma grande paábola. Sua históória está toda voltada para o leitor. Não só o leitor da sua época como para nós, hoje  Jonas representa cada um de nós e Jonas foge de Deus. Quem nunca tentou fugir, procurando negar as evidências da vida? Jonas resmunga contra Deus, por ele ter-se mostrado

misericordioso para com os ninivitas. Quem nunca questionou porque o vizinho está aparentemente em melhor situação? Jonas ficou três dias no ventre do peixe. Quem nunca passou pela experência de ficar em estado depressivo, voltado para si mesmo, e, num encontro pessoal com Deus, voltar á vida, ser “vomitado” daquele estado de quase morte?

Por outro lado, Jonas simboliza o próprio Israel, que se esquiva de cumprir a vontade de Deus e não quer aceitar que Deus ama as outras nações como ama Israel. Sim, Deus ama Israel. Ele faz nascer um mamoneiro para proteger Jonas do sol. Como ele continua renitente em seu despeito e sua raiva, Deus dá uma lição: faz morrer o mamoneiro. E por duas vezes Deus pergunta: “Está certo voce ficar irritado desse jeito?” E termina com um questionamento sem resposta, para levar á reflexão: “Como eu não ia ter pena de Nínive?”.

A narrativa é uma composição literária; não tem uma tradição oral.

A saga do sacrifício de Isaac (Gn 22,1-19)

A narrativa pretende descrever um fato da vida de Abraão é uma história, que dirige o olhar para o passado. Ela está relacionada a um lugar onde teria acontecido o fato. Nesse lugar uma antiga tradição era cultivada para justificar o nome do lugar: Javé-Yir. (Deus prover.).

A narrativa do sacrifício de Isaac . bastante antiga e, ao contrário do livro de Jonas, deve ter sido transmitida oralmente por muito tempo antes de ser escrita. É uma história completa, com começo-meio -e –fim. A narrativa cria uma tensão até atingir o seu clímax para depois se desfazer de maneira conclusiva.

O que acontece com Abraão e Isaac é uma parcela da história dos patriarcas, um pedaço da história de Israel. Para os judeus, o sacrifício de Isaac era muito mais do que sacrificar o próprio filho: era a negação do futuro, a anulação da promessa divina e o abandono da parte de Deus. Com a dispensa de sacrificar seu filho, Abrão recebe de volta a promessa e a garantia do futuro – o futuro de Israel: “... multiplicarei seus descendentes como as estrelas do céu e a areia da praia”.

As origens da história do sacrifício de Isaac remontam a um passado mais remoto da história da Palestina. Era antiquíssimo o costume de se oferecer a Deus o primogênito em sacrifício. A partir de um determinado momento, introduziu-se o costume de “resgatar” a criança, oferecendo-se um animal no seu lugar.

Entre uma época e a outra deve ter havido uma experiência religiosa de conscientização: Deus não quer sacrifícios humanos; o que importa só a fé e a confiança. Foi essa a experiência de Abraão. Pertence a uma época posterior também a experiência de que Deus abençoou Israel, que o tornou grande e lhe deu a terra prometida.

É uma narrativa que conta a históória de um povo baseada na história de uma única família e que reflete as experiências vividas por esse povo em diversas épocas  é o que a ciência literária classifica de saga.

A revolta de Absalão (2Sm 15,1-23)

Apesar de não ser inteção dos autores bíblicos fazer história no sentido atual do termo, na Bíblia existe também uma historiografia. A história da sucesso no trono de Davi é um exemplo (2Sm 9-20; 1Rs 1-2). Já vimos que na saga a história é bem acabada, a narrativa é simples e retiíínea como se um autor a tivesse pensado cuidadosamente. A narrativa histórica apresenta dimensões muito mais amplas, personagens e acontecimentos mais complexos. Tomando como exemplo a revolta de Absalão (2Sm 15,1-23), vemos que a história aqui é o resultado do entrelaçamento de inúmeros fatores políticos e sociais.

Enquanto Jonas é Israel, Nínive é o símbolo do paganismo, Absalão . Absalão; Davi . Davi. Ambos são apresentados como indivíduos de caráter marcante, com características psicológicas bem fortes. O texto apresenta não só a descrição concreta dos personagens, mas também a descrição concreta dos espaços.

Hebron, por exemplo, tem um significado forte, uma vez que era a cidade natal de Absalão e lugar onde Davi tinha vivido muitos anos, trocando-a por Jerusalém. Era o lugar mais apropriado para se começar uma rebelião.

Na saga e na narrativa didática, Deus interfere ativamente como um dos personagens. Na história da humanidade, Deus não interfere assim de forma direta; Ele não opera nenhum milagre. Os fatos aqui são resultados da ação humana, a história é entendida como história profana – e esta é a premissa para uma verdadeira historiografia. Mas em Israel não existe uma história inteiramente profana, pois todos os acontecimentos, para quem tem fé, tem a mão de Deus por trás.

A história da sucesso do trono de Davi não surgiu de uma tradção oral; ela já surgiu redigida, como obra literária. Seu Sitz im Leben deve ter sido os eruditos da corte do rei Salomão (970-930 a.C.); seu autor deve ter sido testemunha ocular que colheu várias informações. E seu objetivo era legitimar a autoridade de Salomão como sucessor de Davi no trono.

Listas e crônicas

O gênero literário da lista é muito antigo e perdura até hoje. Haja vista as listas telefônicas e dicionários. Também na Bíblia, que é riquíssima em formas fixas, se encontram as listas. Vemos um exemplo em 2Sm 20,23-26. O capítulo 13 do livro dos Atos dos Apóstolos também começa com uma lista dos profetas e doutores da Igreja da Antioquia. Ambas as listas têm em comum o fato de que são mais antigas do que o texto em que elas aparecem. Essas listas oferecem muito mais do que simples nomes: a primeira dá uma visão do que era a administração de Davi; e a segunda mostra-nos como era a estrutura da Igreja primitiva.

O gênero literário da crônica é também muito antigo. Como a lista, é também uma sequência. Só que ao invés de nomes, é uma sequência de fatos. Ex.: 1Rs 16,8-14. O Sitz im Leben da crônica eram os escribas e os arquivos da corte real ou dos santuàrios.

Leva-nos em paz agora,

Bendito Jesus,

E permite que andemos

Em tua luz!

Dê-nos sempre tua paz!

Dê-nos sempre teu amor!

Fica em nossa companhia,

é bom Senhor!

santoemidio.webnode.com.br

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