5ª aula

27/03/2012 14:29

 CIÊNCIA x BÍBLIA

Ressurgiu em pleno século XXI um pensamento medieval de que as escolas estariam ensinando noções contrárias . Palavra de Deus. O chamado criacionismo bíblico se opondo ao evolucionismo científico. Se formos fazer uma leitura ao pé da letra da Bíblia, veremos que o próprio autor Bíblico está em contradição.

Em Gn 1,26, o homem é o último a ser criado; em Gn 2,7, o homem é o primeiro a ser criado. Em Gn 2, 10-14, no paraíso nasce uma fonte que alimenta quatro rios: onde fica essa fonte geograficamente? E como acreditar nos seis dias? E outras da vidas nos acorrem se considerarmos a narração do paraíso como histórico-informativa.

O Paraíso

Acontece que esse é o nosso esquema mental, que é completamente diferente daquilo que o autor tinha em mente. Na realidade, ele percebe a situção desastrosa de seu povo e o caos generalizado é sua volta. E conclui que essa não é a vontade de Deus. Se as coisas chegaram a esse ponto, não se pode pôr a culpa em Deus. A sua fé faz dele uma pessoa consciente, que não se conforma com a situação. E procura levar outras pessoas a terem o mesmo nível de consciência.E como Deus gostaria que o mundo fosse? No paraíso descrito em Gn 2,4b-25, não existe violência, nem mau uso das coisas divinas, nem domínio sobre os outros.  Há harmonia total: harmonia do homem com Deus, do homem com os homens, do homem com os animais, do homem com a natureza. A intenção do autor é levar o leitor a ações concretas de um processo de conversão, que transforme a situação de mal-estar numa situação de bem-estar. Pois afinal, quem é o responsável por aquele estado caótico em que o mundo se encontra?

O pecado original

Para o autor, a causa da desordem é o fato de os homens terem abandonado a Lei de Deus. A proibição de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal denuncia o homem que quer por si mesmo o critério de decidir o que é bom ou mau, sendo que o homem que age assim encontra tudo menos a vida. O homem domina a natureza, menos seu próprio destino. O narrador não dá nenhuma explicação sobre a existência e a origem do mal; ele apenas o constata como um fato. O fruto proibido é o uso indiscriminado da liberdade contra Deus e contra o homem. A causa disso tudo é a serpente, símbolo da religião canania, onde o sexo era um ritual sem compromisso etico. Era a tentação de se refugiar no rito fácil, sem as duras exigências da Lei.

Para o autor, essa é a raiz do pecado. Ele não está pensando no passado, na história; o que interessa é a situação de hoje. Adão e Eva podem ser traduzidos por “um homem e uma mulher”, representando todos os homens e todas as mulheres. O responsável por tudo é o ser humano, que deve lutar para que o mal desapareça é  possível vencer com a graça de Deus. O paraíso continua a existir como uma possibilidade real. E esse paraíso é concretizado com a vinda de Jesus Cristo e sua Ressurreição. Por isso São Paulo considera Jesus como um “novo Adão”.

Experiência de libertação

A noção de criação só chega a Israel, após a experiência da libertação do povo antes deportado para Babilônia (587-538 a.C.). Sentindo em sua fé que Deus é salvador, de proclamá-lo criador (primeira narrativa da criação). O autor da segunda narrativa escreve após a libertação do Egito, e a consolidação da monarquia sob Davi. Após essas experiências, Israel descobre que Deus o quer como povo livre, e, por isso, salva-o também de suas servidões não apenas políticas mas existenciais. Deus é o Senhor da história. Ele criou a humanidade e a criou para a liberdade. O uso desvirtuado dessa liberdade – que é o pecado original – é que leva o homem ao sofrimento.

A maneira como Deus criou não é preocupação do autor. Tudo que ele descreve só a  imagens por trás das quais podemos perceber uma mensagem.

O autor utiliza a imagem do oleiro, tão comum no seu tempo. Deus formou o homem do barro e “soprou-lhe” a vida. Essa imagem serve para demonstrar a fragilidade do homem e sua extrema dependência de Deus. O deus Criador é apresentado com traços humanos para sublinhar o caráter pessoal de Deus. A imagem da costela teria vindo de um mito sumário. “esta é a carne da minha carne e osso dos meus ossos” – essas palavras poderiam ser traduzidas por “da mesma natureza”. Assim, a sexualidade se liga é obra do Criador. Num sentido mais amplo, a unidade entre o casal serve para representar a unidade do gênero humano.

Por isso a Bíblia não fala em evolução. Essa é uma constatação da Ciência. O que importa é crer que, seja por qual maneira, Deus é o criador de todas as coisas. A única atitude sadia é fazer uma pesquisa séria, sob a luz da fé, procurando esclarecer e interpretar os sentidos dos textos bíblicos.

O Êxodo

A história da fuga dos hebreus do Egito é o maior exemplo da atução de Deus na libertação dos homens. Vendo episódios como a travessia do Mar Vermelho, passa pela nossa cabeça perguntas como esta: Por que não acontecem mais milagres assim hoje em dia? O êxodo é narrado em vários livros da Bíblia, inclusive alguns salmos. Várias características da narrativa devem ser levadas em conta: repetições, exageros, contradições... Acontece que, como já vimos, o autor bíblico não narra a história pela história. O que interessa é ver o sentido que o fato histórico tem para a nossa vida. E para isso ele lança mão de recursos que considere necessários. No caso específico do êxodo, o sentido é que Deus se revelou ao povo e, no contato com Deus, o povo assume o compromisso da aliança. A Bíblia quer revelar que Deus estava presente naqueles acontecimentos.

O teólogo Carlos Mesters faz uma comparação que nos ajuda a entender melhor. “Há fotografias e há raios-X. Livros de história são como fotografias: descrevem aquilo que pode ser observado a olho nu. A Bíblia, porém, é como raios-X: revela na chapa o que não pode ser observado a olho nu. Ou seja, não é possível ver nem apalpar a presença atuante de Deus (cf Jo 1,18). Mas o raio-X da fé percebe e revela a sua presença. Há uma diferença entre o ângulo de visão do historiador comum e o da Bíblia”.

A visão da Ciência

Nada impede que a Ciência dê sua palavra a respeito de acontecimentos citados na Bíblia. Pesquisas feitas chegaram é seguinte conclusão: as pragas que assolaram o Egito eram fenômenos comuns na região do rio Nilo; a passagem pelo Mar Vermelho deve ter sido num momento de maré baixa e, quando os egípcios chegaram, a maré teria subido; o maná era uma espécie de resina comestível. Só o fenômenos que existem até hoje, portanto, não houve nada de sobrenatural. Houve uma tentativa humana de libertação, que, com algumas estratégias, foi bem sucedida.

A Ciência  só é observa e analisa os acontecimentos naturais, que saltam aos olhos – é a fotografia. Mas ela também não pode negar a realidade que os raios-X da fé permitem detectar.

A visão da Bíblia

Colocando sobre os fatos históricos a luz da fé, conseguimos ver além do lado externo de todos os esforços de libertção do povo hebreu liderados por Moisés. Tais quais os raios-X, ela nos faz ver o lado interno, que é a experiência de vida, o crescimento pessoal e coletivo desse povo, que o fazia ver em tudo a ação providencial da mão de Deus.

O êxodo é um processo longo, lento, cheio de percalços e vitórias. E Deus sempre presente em todos os detalhes. Até o endurecimento do faraó era Deus agindo, preparando a libertação (Ex 7,3-5; 9,35; 10,20.27). Pois Deus quer o povo livre para ser o seu povo. A Moisés cabia a missão de conscientizar o povo sobre seu estado de opressão, pois só é possível libertar-se quem tem consciência de sua escravidão.

A grande lição que o êxodo nos da é a fé em Deus que caminha com o povo. “A descrição do êxodo visa a provocar essa fé nos leitores, suscitar neles o mesmo esforço de libertação e levá-los a celebrar entre si essa presença libertadora de Deus no meio deles: .Cantai ao Se-nhor porque Ele fez brilhar a sua glória. (Ex 15,21)”.

O êxodo teve início numa noite de Páscoa. A Páscoa era uma festa pastoril de primavera quando se costumava passar sangue de animais nas portas para espantar os maus espíritos.

Nos anos seguintes a festa deixou de ter o objetivo de espantar os maus espíritos e passou a ser um memorial da libertação, um momento para se recordar o que Deus havia feito em favor do povo. A Páscoa de Cristo foi a verdadeira Páscoa, pois passou da morte para a vida eterna, junto ao Pai, verdadeira liberdade.

Toda a nossa vida é um êxodo, ou melhor, é uma páscoa. Estamos sempre a caminho, passando de um estágio a outro num processo de conversão, para nos livrarmos de todo tipo de opressâo no amor libertador de Cristo.

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