5ª aula

27/03/2012 15:27

A fé cristã: uma visão atual

Toda tentativa de definir a fé cristã num contexto católico hoje precisa levar em consideração que há duas formas populares de definir a realidade da fé cristã dentro da tradição católica. O modelo intelectual define fé como anuência intelectual às verdades reveladas por Deus conforme contidas nos ensinamentos da Igreja Católica. O modelo personalista define fé como o compromisso pessoal total com o amor de Deus revelado em Jesus Cristo. Tanto o modelo intelectual como o modelo personalista, a realidade da fé é sempre definida de acordo com os dois componentes fundamentais, o conteúdo (ou objeto) da fé e o ato de fé. O que diferencia um modelo do outro é o modo como se descreve o conteúdo da fé e o ato de fé.

No modelo intelectual, o conteúdo da fé é a manifestação de verdades reveladas por Deus, e o ato de fé é a anuência (aprovação/consentimento) intelectual a essas verdades. Nessa perspectiva, o objetivo da fé é receber uma forma nova e superior de conhecimento, uma participação no conhecimento de Deus.

Por outro lado, o modelo personalista descreve o conteúdo da fé como a manifestação pessoal de amor de Deus em Jesus Cristo, e o ato de fé como uma aceitação pessoal e total do amor oferecido por Deus. Nesta visão, o objetivo da fé é levar o crente a uma experiência pessoal auto-transformadora do amor incondicional de Deus. A fé católica é a aceitação total e o compromisso da pessoa humana com a manifestação pessoal do amor de Deus conforme revelado na pessoa de Jesus Cristo na Igreja como comunidade de fé.

Quais os elementos mais importantes que constituem a fé?

Alguns elementos da fé cristã são comuns a todos os cristãos, inclusive os católicos: batistas, Igreja de Cristo, luteranos, metodistas, presbiterianos, anglicanos, etc.

O conteúdo da fé:

Quando falamos em conteúdo da fé, referimo-nos àquilo em que acreditamos conforme expresso no ato de fé. O ato de fé especifica a realidade externa da fé que toca a pessoa humana desde fora e desperta nela a resposta de fé.

Quatro componentes para analisar o conteúdo da fé:

A revelação

Jesus Cristo

Igreja

Símbolo da fé

Revelação

Antes de tudo, acima de tudo, a fé é uma resposta a revelação de Deus. Ninguém chega à fé por dedução e, sem dúvida, ela não é conclusão lógica de um silogismo. A resposta de fé não é exclusivamente ação da pessoa humana.

1 - Dedução formal tal que, postas duas proposições, chamadas premissas, delas se tira uma terceira, nelas logicamente implicada, chamada conclusão.

2 - Encontro como o ato de auto-manifestação de Deus. Assim, há uma unidade fundamental entre revelação e fé.

A revelação não é primeiramente uma manifestação de verdades divinas, mas sim a manifestação pessoal do amor de Deus e da solicitude divina pela pessoa humana e pelo mundo é a revelação é a manifestação de um amor transcendente e absoluto, um amor que é universal e sem intenção, no sentido de que é oferecido a todos os seres humanos de todos os tempos, independente de sexo, raça ou credo religioso.

Além disso, o amor de Deus é um amor totalmente gratuito; não devido, mas conquistado; não merecido, mas que flui livremente do amor todo abrasador de Deus pela pessoa humana e pelo mundo. “A experiência da revelação de Deus é a experiência da aceitação do inaceitável” Paul Tillich. Para sentir o amor incondicional e gratuito de Deus (ler Os 1-14). Deus se revela não somente através da palavra, a revelação é também histórica. “obras realizadas pro Deus na História da Salvação” (Dei Verbum 2).

Este processo de manifestação pessoal de Deus começa com a criação, continua através da revelação feita a Abraão, a Moisís e aos profetas, e alcança seu término e plenitude na revelação que chega com Jesus Cristo e através dele. Em Jesus, Deus “realiza e completa a revelação” (Dei Verbum 4).

Jesus Cristo

Quem é Jesus? Por que Jesus veio? A Cristologia explica, Jesus é importante não apenas porque nos diz alguma coisa sobre Deus, a pessoa humana e o mundo, mas porque ele verdadeiramente realiza a reconciliação entre Deus e a humanidade. Em Jesus Cristo a pessoa humana tem experiência de Deus e encontram-se os meios para se tornar plena e integrada. Jesus é o Messias, Servo Sofredor, Filho de Homem, Profeta, Sumo Sacerdote, Filho de Deus, Verbo preexistente de Deus.

O Concílio de Calcedânia (451) afirmou que Jesus . verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, duas naturezas – a humana e a divina – unidas numa única pessoa. Jesus Cristo permanece o mesmo ontem, hoje e amanhã, mas nossa compreensão sofre alterações de uma geração para outra e às vezes, muito coerentemente, de uma cultura a outra.

A fonte de salvação é a humanidade ressuscitada de Jesus. Para vivenciar a manifestação pessoa de amor por parte de Deus, o crente precisa encontrar a humanidade ressuscitada de Jesus. Alguns teólogos contemporâneos dão grande importância ao Jesus histórico – de uma pessoa preocupada com os outros - alguém que passou a vida mostrando o seu amor pelos pobres e marginalizados de sua sociedade.

Consequentemente, os cristãos devem se preocupar o os outros, o que significa ter compaixão – sentir o sofrimento do outro.

Igreja

É na Igreja e através dela que a pessoa chega ao conhecimento de Jesus Cristo.

Nas tradições da Igreja Católica

Na comunidade de fé.

A fé católica não é um encontro individual entre Jesus e o Crente, mas um encontro com o Cristo ressuscitado na comunidade e através da comunidade de crentes.

A igreja tem sua origem nas primitivas “assembléias” ou “reuniões” dos batizados no nome de Jesus que se reuniam para celebrar a partilha do pão.

A palavra Igreja do termo grego ekklesia (ex [de fora] e kaleo [chamar]) e significa literalmente “aqueles que foram chamados”, e assim, uma assembléia ou congregação.

O Concílio Vaticano II define a Igreja como o “corpo de Cristo, o “Povo de Deus” e, acima de tudo, uma comunidade de crentes unidos na fé em Jesus Cristo (Lúmen Gentium 1-2). O Concílio Vaticano II reafirma que o papa e os bispos têm funções de autoridade distintas a desempenhar na Igreja. O cap.tulo IV da L€men Gentium (Conc. Vat. II) põe em evidência o papel ativo do leigo da Igreja.

Embora a Igreja tenha um papel imprescindível a exercer na experiência de fé, deve-se ter em mente que esse papel à de intermediação. A Igreja com os seus sacramentos, ritos e ensinamentos . um meio de salvação. Ela dá aos crentes condições de encontrarem Jesus Cristo e o Deus nele revelado. O católico não acredita na Igreja ou no papa do mesmo modo que crê em Deus ou em Jesus Cristo. Uma forma de expressão correta é dizer que nós católicos acreditamos que Jesus Cristo está presente na Igreja, isto é, que a Igreja apresenta ou torna Jesus Cristo presente aos homens e mulheres que vivem no mundo hoje, para que possam sentir o amor revelado em Jesus Cristo.

Símbolos da fé

É no nível dos símbolos da fé que o conteúdo desta assume uma forma mais concreta. Símbolos da fé são todas as expressões concretas do conteúdo da fé que fazem parte da tradição católica desde o começo do cristianismo até o presente.

Alguns destes símbolos, como as Escrituras, constituem os fundamentos mesmo da fé; eles são normativos, de um modo especial porque contém a experiência apostóica da revelação de Deus em Jesus Cristo.

Outros, como as doutrinas da Igreja, são derivativos, no sentido que são expressões posteriores que transmitem a experiência apostólica da revelação das pessoas que vivem em novas situações históricas e culturais.

Alguns simbolos da fé católica:

As Escrituras

Os sacramentos

A liturgia

As doutrinas e dogmas

Os ensinamentos éticos e morais

As orações

O testemunho dos santos

A vida de cristãos fiéis

Os símbolos apelam á pessoa toda, inclusive ao intelecto. O teólogo Avery Dulles define símbolo como “... um signo percebido externamente que opera misteriosamente sobre a consciência humana de modo a sugerir mais do que ele pode descrever ou definir claramente”. Os símbolos da fé participam das realidades que revelam. Ao mesmo tempo esses símbolos não podem ser identificados com essas realidades, pois eles mesmos são extraídos da linguagem humana que é finita, condicionada e histórica, enquanto a realidade da manifestação pessoal de Deus é infinita, incondicional e definitiva.

Consequentemente, os símbolos da fé não podem expressar plena e totalmente as realidades da fé, que, em última instância, são mistérios. Os símbolos são expressões verdadeiras da fé, porém limitados.

Os símbolos da fé são vigorosos e eficazes porque põem o crente em contato com as realidades objetivas da manifestação pessoal de Deus e lhe possibilitam vivenciar de uma maneira pessoal. Como nenhum símbolo consegue expressar exaustivamente um mistério de fé, outros símbolos podem ser desenvolvidos para expressar o mesmo mistério. Há uma multiplicidade de símbolos. Alguns teólogos ensinam que há uma hierarquia de símbolos. A Igreja Católica não espera que todos os seus fiéis aceitem todos os símbolos exatamente da mesma maneira.

“Creio, Senhor, mas aumentai minha fé”

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