7ª aula

27/03/2012 14:29

 O MILAGRE NA BÍBLIA

Definição de milagre

O dicionário Aurélio traz as seguintes definições para milagre: 1) Feito ou ocorrência extraordinária, que não se explica pelas leis da natureza. 2) Acontecimento admirável, espantoso. 3) Portento, prodígio, maravilha. 4)Ocorrência que produz admiração ou surpresa. 5) Qualquer manifestação da presença ativa de Deus na história humana. 6) Sinal dessa presença, caracterizado sobretudo por uma alteração repentina e insólita dos determinismos naturais.

A característica principal do milagre é a sua excepcionalidade. Só há milagre quando o fato não pode ser explicado pela ciência. Quando se admite a possibilidade de alguma relação entre Deus e o milagre, sua ação é  considerada uma intervenção vinda de fora no curso natural dos acontecimentos. No entanto, muita coisa que ontem ainda era considerada milagre, por causa de seu caráter extraordinário e inexplicável, hoje, pelo avanço dos conhecimentos humanos, encontra plena explicação e por isso não pode ser tida como milagre.

O milagre na Antiguidade

Os autores Bílicos eram homens de uma determinada época e marcados pelas culturas dentro das quais viviam. Na Antiguidade, entre Deus – ou os deuses – e o mundo não havia uma separação de tal natureza que impedisse uma intervenção constante dos poderes divinos, dos bons e dos maus espíritos nos acon-tecimentos deste mundo. Por isso, para os homens dessa época, não era o caráter excepcional de um acontecimento que o definia como milagre, mas a experiência do divino. Para classificar algum fato como milagre era preciso sentir a presença e a ação da divindade e de seus poderes muito mais intensamente que em outras ocasiões. Se a vida era considerada um dom da divindade, também o era, evidentemente, o restabelecimento ou a cura de uma doença grave.

O milagre na Bíblia

Com os escritores bíblicos a coisa não era diferente. No entanto, a sua concepção de milagre se diferenciava, em alguns pontos importantes, daquela do seu mundo ambiente. Os mitos do mundo em volta de Israel descreviam a origem do mundo como uma luta dos elementos caóticos da natureza, dos quais as di-

vindades foram as primeiras a surgir. De acordo com a fé de Israel, pelo contrário, no começo Deus aparece com seu pleno e absoluto domínio sobre todos os poderes. Por isso é que já a criação é considerada como prova do poder de Deus, celebrada pela liturgia de Israel (cf. Sl 136/135, 4-7).

Uma outra diferença é que o mundo fora de Israel cultuava como deuses as forças vitais e mortíferas da natureza: fontes, rios, árvores. Israel não cultuava nenhuma divindade da natureza. O Salmo 107/106, um dos cânticos litúrgicos de graças, nos testemunha a convicção de que Deus está presente na vida pessoal de cada indivíduo e de que o salva de situações perigosas. Essa crença de Israel, segundo a qual Javé cuida não somente dos indivíduos, como também de todo o povo, encontrou sua expressão máxima nas narrativas dos milagres relacionados com a saída do Egito. Trata-se aqui de uma interpretação da história na perspectiva da fé .  Providência de Deus que devemos a graça de estarem nossas tribos libertas e unidas, em um país fértil. Dessa interpretação do passado surgia a certeza de que Deus as governava no presente e operaria a salvação no futuro.

Além da ação de Deus na história dos indivíduos e do povo, encontramos também relatos de milagres operados por dois profetas – Elias e Eliseu (1-2 Rs). São relatos de curas, multiplicação dos alimentos, de ressurreição de mortos. Mas em proporção ao volume de livros do AT, os milagres são muito poucos. No NT

eles são proporcionalmente mais numerosos.E é na visão do fiel cristão que os milagres do NT se revestem de uma característica peculiar, que os tornam diferentes daqueles do AT: a ação salvífica de Deus em favor do homem, tal como ela se manifestou na vida e nos feitos de Jesus, possui um caráter definitivo.Enfim, para a Bíblia, os milagres são acontecimentos estranhos, que o crente entende como sinais da ação salvadora de Deus.

O milagre no Novo Testamento

Por um longo tempo se considerou que os relatos bíblicos sobre milagres eram textos que queriam oferecer informações históricas objetivas sobre aquilo que aconteceu em determinadas ocasiões e em determinados lugares. O objetivo dos escritores, no entanto, era o de abrir os olhos para o que pertencia ao presente e ao futuro, esperando dos leitores não apenas uma tomada de conhecimento, mas, principalmente, o de uma mudança de atitude (conversão). Abrir os olhos significa: “Reconheço que o texto fala de um Jesus que não somente curou os enfermos, mas que vive como Senhor ressuscitado e ainda hoje opera a salvação e fará com que todo mal venha a ser curado; então não posso assumir uma atitude neutra e desinteressada, mas devo me comprometer”. O que se espera é uma fé engajada, uma fé empenhada em prol dos outros e de um futuro melhor. Isso fica claro se considerarmos que os textos foram escritos à luz da fé no Ressuscitado. Eles querem comunicar as pretensções de Jesus ao presente a partir do passado. E proclamam que Jesus é aquele que opera a salvação no passado, no presente e no futuro. As narrativas de milagres não se interessam por afirmações de caráter científico. O que elas pretendem é atestar que Deus opera a salvação e qual a maneira como ele a realiza.

Quanto mais se distancia no tempo dos fatos históricos maior é a compreensão que se tem deles. Isso acontece também com os evangelhos. E o Evangelho de João, sendo o mais tardio deles, traz uma teologia mais elaborada a respeito da ação salvífica de Jesus.

Para ilustrar isso, acompanhemos o que diz o autor Alfons Weiser sobre o Evangelho de João: “Este é o último dos quatro evangelhos e foi escrito por volta de 95 d.C. Alguns dos seus relatos contém ampliações claras em confronto com os três primeiros. Por outro lado, porém, nenhum dos evangelhos frisa com tanta

energia que a compreensão do milagre á luz da fé  é muito mais do que a simples percepção exterior de um fato miraculoso. Mateus (cap 8) e Lucas (cap 7) nos dizem que Jesus curou o servo enfermo do centurião,  distância, mas ainda no perímetro da cidade de Cafarnaum. De acordo com a descrição de Joâo (cap 4), Jesus se encontrava em Canãa e o enfermo em Cafarnaum, portanto, separados um do outro por cerca de 30 Km. Acentua-se a importância do milagre com a grandeza da distância. Mas no evangelho de Joâo encontramos também palavras de censura de Jesus contra a sede de milagre: ‘Se não virdes sinais e prodígios, não acreditareis’ (4,48)”.

                        CONCLUSÃO

Voce  agora tem consciência de que não se deve entender a Bíblia como se fosse um livro de história ou um tratado de ciências. Viu também como é importante conhecer as formas fixas e os gêneros literários.

O principal objetivo do autor bíblico é – no Antigo Testamento – demonstrar a ação da Providência divina na história e despertar uma mudança de atitude, um compromisso através da Aliança. E no Novo Testamento, a intenção é  mostrar como Jesus realizou a ação salvífica de Deus de caráter definitivo.

A maioria das edições da Bíblia possuem notas de rodapé ou notas introdutórias que nos ajudam na interpretação. O importante é estar ciente de que os textos bíblicos não estão interessados em contar o passado só para informar; o passado nos interessa quando lança luzes sobre o presente tendo em vista o futuro.

A melhor forma de se adquirir uma segurança maior na correta interpretação da Bíblia, levando-se em conta as noções que refletimos nessas sete semanas . fazendo uma leitura continuada da Bíblia. Quanto mais lermos a Bíblia mais compreenderemos os seus gêneros literários e a mensagem de cada texto.

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