Pablo Fontaine, ss.cc.

Festa da Santíssima Trindade

O MISTÉRIO DE DEUS

Provérbios 8,22-31, Romanos 5,1-5, João 16,12-15

 

 

A Trindade não é uma invenção dos teólogos nem uma raridade dos catecismos. É a realidade do mistério insondável de Deus expressado pelo próprio Jesus e pregado pelos mais antigos Padres da Igreja.

 

            Eis o que nos diz Jesus: "Quando vier o Espírito da verdade, ele vos introduzirá na plena verdade". Jesus deixou uma mensagem que foi recolhida por seus seguidores, pregada aos povos, escrita nas Escrituras. O que acrescenta, então, a ação do Espírito Santo? O Espírito introduz essa mensagem no coração do cristão e da comunidade. Ele faz com que a sua verdade se torne a "nossa verdade", internaliza a pregação de Jesus e nos permite vivê-la.

 

Continua Jesus no Evangelho de hoje: "Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará". Ou seja, o mesmo Espírito que brota do corpo de Cristo ressuscitado, mostrará o esplendor de Cristo, a sua glória, a sua vitória sobre o pecado e a morte. Jesus diz que "receberá do que é meu", porque o Espírito que a Igreja recebe provém de Cristo. Por isso, é verdade o que foi dito pelo Senhor: "receberá do que é meu". Mas, ao mesmo tempo, o Espírito receberá tudo do Pai, porque Jesus acrescenta: "Tudo o que é do Pai é meu". Em outras palavras, o Espírito Santo procede do Pai através do Filho. Por meio do Filho, "o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (2ª leitura de hoje).

 

Assim, o mistério da Santíssima Trindade não só foi expressado por Jesus, tanto quanto é possível através da linguagem humana; além disso, ele também entrou no tecido mais íntimo de nossas vidas e de nossos destinos. Literalmente, nos movemos na Trindade que é o ambiente natural do cristão, ainda que tudo isso permaneça escondido aos olhos da carne e visível apenas aos olhos da fé.

 

A Revelação da Trindade nos submerge numa adoração profunda, pela qual reconhecemos a grandeza divina e a força de seu amor por nós. Ela nos torna conscientes da nossa pobreza com relação ao amor que nos busca e nos é oferecido, e ao mesmo tempo conscientes de nossa dignidade humana, porque nós viemos da profundidade da vontade divina e somos destinados a viver agora e para sempre nessa luz divina, da qual já participamos pela fé e constituirá a nossa felicidade eterna.

 

Pablo Fontaine, ss.cc.

 


PABLO FONTAINE SS.CC

 

 

PENTECOSTES – ANO C

Atos 2,1-11; Romanos 8,8-17; João 14,15-16.23-26

 

O GRANDE PRESENTE

Nesta festa de Pentecostes, ao recordar que o Espírito foi dado em abundância à Igreja nascente, devemos reavivar a experiência deste Hóspede que nos enche com sua luz e com sua alegria quando lhe permitimos agir em nós, quando pedimos sua presença, quando reafirmamos nossa fé nEle.

Ter fé no Espírito Santo é reconhecer que o tecido de nossa vida não vem só de nós mesmos. Há um princípio superior, há um amigo íntimo e misterioso que nos conduz e incorpora à Comunidade do Ressuscitado para anunciar ao mundo as maravilhas de Deus, a notícia da salvação em Cristo.

Equivale a dizer que somos amados desde sempre, antes de que fôssemos capazes de conhecer e amar. É reconhecer que uma chama viva de Amor está sempre tentando entrar em nossos corações. Se removermos os obstáculos e lhe dermos entrada, a nossa vida resplandecerá habitada pelo Deus que nos santifica com a sua presença.

No dia de Pentecostes, a pequena comunidade de Jerusalém se comoveu com esse grande dom que a encheu de alegria e a impulsionou a anunciá-lo a todas as nações. Esse dia de Pentecostes não terminou, continua até hoje e sempre, dando vida à Igreja que, sem o Espírito Santo, seria uma organização burocrática ou uma instituição moralizante.

O Espírito dá à comunidade dos discípulos de Jesus a capacidade de se renovar sempre, de converter-se cada dia de novo, para ver a mensagem do Senhor com olhos sempre novos e assimilar o que o próprio Espírito vai lhe dizendo por meio dos acontecimentos.

O Espírito move misteriosamente as forças presentes na história a conduzir a humanidade rumo ao seu fim, através de muitas dificuldades e tribulações.

O Espírito dá à comunidade a alegria, a paz, o consolo das Escrituras, a força nas perseguições.

O mesmo Espírito está continuamente produzindo o milagre da santidade na Igreja. Os sinais de sua presença são Teresa de Calcutá, Frei Galvão, Padre Eustáquio, Nhá Chica e muitos outros santos, conhecidos ou anônimos, que vão surgindo em nosso mundo.

O Espírito não “deve ser o grande desconhecido”, como se disse na época do Concílio Vaticano II. Sua presença é próxima e tangível.

 

Pablo Fontaine ss.cc.

Santiago do Chile

 

 

Ascensão do Senhor

A glória de Cristo

 

 

O Evangelho que se lê no dia de hoje nos dá um resumo da mensagem de Jesus. Um verdadeiro “credo” na linguagem do Novo Testamento: "Jesus disse aos discípulos: estava escrito que o Messias tinha de morrer e ressuscitar dentre os mortos, e que em seu nome seria anunciado a todas as nações, começando por Jerusalém, a conversão e o perdão dos pecados. Vocês são testemunhas destas coisas. De minha parte, eu vou enviar-lhes o dom prometido por meu Pai. Vocês devem permanecer na cidade até que sejam revestidos da força que vem do alto".

 

Neste resumo, vemos o essencial de nossa fé. Não é necessário buscar novas revelações nem entusiasmar-se com tudo o que é sensacional, novo, estranho ou esotérico. O centro de nosso “credo” é a Páscoa de Cristo, isto é, a sua morte e ressurreição, que nos envolve a todos num processo de dor, morte, conversão e perdão, para chegar à vida nova e à Glória de Cristo, da qual participaremos depois de ter recebido a energia do Espírito Santo.

 

Esta Gloria, na qual se encontra o Cristo depois de ter sofrido, é o objeto principal da festa da Ascensão. A sua realidade humana, sem deixar de ser humana, se encontra imersa na luz de Deus. Mas não está sozinha. Com Cristo, sobe toda a humanidade transfigurada. Esta é a meta, o fim de todos os nossos trabalhos.

 

No final do Evangelho de hoje se alude à entrada de Cristo em sua glória. Enquanto isso, os discípulos retornam à vida normal, retornam também às labutas da pregação, e vão ser por isso perseguidos. No entanto, ”estão cheios de alegria”, diz o texto. É que agora eles são portadores de uma fé segura, uma esperança viva e um amor que o Espírito Santo semeou em seus corações. A glória de Cristo não é apenas o final, é a luz interior que conduz aquele que crê. Ela ilumina as tarefas do homem e da sociedade, o anseio de uma vida mais digna e justa para todos, o crescimento das nações e as buscas da ciência. É a mesma luz que brilha no coração dos santos. A imagem visual de Cristo subindo ao céu é o símbolo dessa plenitude.

 

Neste dia começa a “Semana de Oração pela Unidade” de todos os cristãos. Ainda é doloroso que nos encontremos separados com tantas igrejas que têm o mesmo credo e participam de igual esperança. Nossa oração destes dias pede, como fez Jesus, que todos sejamos um, assim como o Pai e o Cristo são Um.

 

 

Paulo Fontaine, ss.cc.

Santiago do Chile